Hoje terminei a leitura do primeiro livro da Trilogia
dos Pássaros, de Marcelo Zaniolo. É seu livro de estréia e, apesar
desse detalhe, ou justamente por isso, esse jovem escritor se sai bem
de sua primeira investida. Todos os elemementos narrativos de uma boa
história estão presentes.
O
escritor contempla com generosidade cada aspecto da Jornada do Herói,
desde O Chamado até a Jornada propriamente dita. Contudo, não há
em sua escrita uma tentativa fria de seguir uma receita cômoda e
certa para levar adiante e concluir satisfatoriamente um projeto
literário. Marcelo não se furta em fazer seus experimentos, principalmente na construção de seus personagens, que
se mostram tridimensionais e factíveis em suas contradições
humanas, cada qual com sua força e fraqueza, medos e incertezas. Em
vários momentos, me vi entre eles, compartilhando seus dilemas e
suas emoções.
Apesar
disso, o início da leitura foi arrastado e demorei mais do que de
costume para estabelecer uma conexão com a história, talvez mais
por conta de outros afazeres e meus próprios escritos. Agora que
cheguei ao fim, penso que deveria ter me concentrado no livro um
pouco mais, dada a satisfação que a leitura me proporcionou.
O Templo dos Ventos não se mostra de imediato. O leitor
precisa se esforçar para “entrar” na história, mas quando o
consegue, junta-se aos jovens protagonistas, Noah, Átila e Deni em
sua jornada por um mundo devastado em uma grande inundação, que parece uma referência direta ao Dilúvio biblíco. Há
nessa jornada um componente de natureza mística, que se traduz numa
antiga dívida dos homens para com os pássaros, e com os quais os
personagens estabelecem uma ligação semelhante aos elementos
totêmicos dos povos indígenas. Ligação essa que se fortalece
nos propósitos que eles mal vislumbram, ao ultrapassar os limites da
aldeia e descerem a montanha que habitam, em direção ao
desconhecido.
Destarte, penso que o jovem escritor Marcelo Zaniolo
estreou com o pé direito no segmento de aventura e fantasia,
estabelecendo com autoridade seu espaço na vigorosa literatura
independente nacional. Que seja bem-vindo, pois. Fica aqui minha
torcida para que continue ousando em seus experimentos literários e
consolide seu estilo narrativo.
308 páginas. Capa de Jean Milezzi.