Essa aconteceu em meados dos anos 50, nas proximidades do cemitério de Itacorubi. Mais precisamente, na estrada que até hoje margeia aquela necrópole, e me foi contada por meu pai, que adorava narrar velhas histórias – reais ou imaginárias – que até hoje sobrevivem em minha memória.
Meu pai era um mestre em contar histórias. Suas narrativas, cheias de floreios e feitos sonoros que imitavam as antigas novelas de rádio, prendiam a atenção de todos até o desfecho final. Era assim que passávamos as noites de domingo, após o jantar. Nessas ocasiões, não era raro ficarmos na expectativa de ouvirmos uma nova história, quando ele chegava ao fim da que estava contando e olhava triunfante o semblante compenetrado e atento de sua platéia, geralmente formada por por mim, meus tios e alguns vizinhos, reunidos na mesa da cozinha. Minha mãe, entretida com os afazeres domésticos, parecia não participar daqueles momentos, mas em muitas ocasiões, surpreendi-lhe no olhar a expressão de que “já ouvi isso antes”. Algo que só reforça minha opinião sobre talento narrativo dele, razão mais do que suficiente para transcrever neste espaço uma de suas histórias.