Ao contrário do que eu supunha, não houve nenhum atraso. O boneco já estava esperando por mim no bar do hotel onde estava hospedado. À sua frente, sobre a mesa, um copo de Gim-tônica repousava intocado. Isso também era uma surpresa, uma vez que eu já sabia que Pinóquio era conhecido nos círculos mais íntimos como um ”enxugador" de primeira. Todavia, logo descobri que o copo que via já era o terceiro da noite, apesar de não perceber nenhum sinal de embriaguez naquela cara de pau no início da entrevista. Na verdade, ele parecia bastante lúcido e amigável, apesar do que costumavam afirmar as publicações especializadas no show-business. Então aproveitei sua boa disposição para iniciar minha entrevista.
BL: Você surgiu em 1883, pelas mãos do escritor Carlo Collodi. Como percebe sua trajetória no imaginário infantil de gerações de crianças no mundo todo?
Pinóquio: Eu me sinto muito honrado, é claro. Mas antes de tudo, gostaria de esclarecer algumas coisas. O Carlo Collodi se chamava Lorenzini e realmente escreveu minhas aventuras, mas eu fui esculpido por um entalhador chamado Geppetto, que foi também quem escolheu o meu nome.
BL: Por falar nisso, o que significa o seu nome?
Pinóquio: Em italiano Pinocchio significa pinhão em dialeto Toscano. É a madeira da qual fui esculpido. Em italiano padrão seria pinolo. Nasci como um boneco de madeira, mas desde o início sonhei em ser um menino de verdade.
BL: Como é isso? Quero dizer, como um boneco de madeira pode sonhar em ser um menino de verdade?
Pinóquio: Eu é que sei? Geppetto desejava tanto um filho que uma fada me deu consciência e autonomia, mas ainda era um boneco. Isso era muito chato. Vivia sofrendo bulling e tinha que aguentar todo tipo de sacanagem dos garotos da escola. Então era natural que eu desejasse ser um menino igual aos outros.
BL: Então foi aí que a Fada Azul entrou em sua vida?
Pinóquio: Não! (Irritado). A Fada Azul já havia entrado antes na minha vida. Ela me deu a consciência de existir, lembra? Sem isso eu seria um boneco comum. Só depois ela atendeu meu desejo de ser um menino de verdade, mas eu tinha que atender determinadas condições, é claro. Nada vem de graça.
BL: Que condições seriam essas?
Pinóquio: Nada demais. Só aquelas baboseiras que tentam impor a todas as crianças sobre ser bom e obediente. Coisas assim. É claro que não deu certo.
BL: Por que não?
Pinóquio: O mundo fora de casa era cheio de tentações. Aí não demorou muito para eu cair na gandaia e deu no que deu, como foi relatado no livro do Collodi.
BL: Então é dessa época que o seu nariz começou a crescer toda vez que você mentia?
Pinóquio: (Embaraçado). Foi. Mas o trato era que crescesse outra coisa. A Fada decidiu mudar
quando viu que eu ia me meter em encrenca.
BL: Vamos mudar de assunto, então. Apesar desses contratempos, você conseguiu iniciar uma
trajetória de sucesso e, em 1940, chegou ao cinema por intermédio de Walt Disney. Como foi
isso?
Pinóquio: Não gosto muito de lembrar-me dessa época. Disney era um grande safado e só
contou minha história porque não precisava pagar direitos autorais.
BL: Isso é surpreendente. Disney ainda hoje é sinônimo de diversão saudável e cultura para a
família em todo o mundo.
Pinóquio: Uma ova que é. Aquele déspota não passava de um sujeitinho mesquinho e
ganancioso. Era, além disso, sexista, antissemita e tinha uma relação muito complicada com o
sexo.
BL: Como assim?
Pinóquio: Você nunca notou que a maioria das personagens de Disney não tem pai nem mãe,
só tios? Para Disney, todo o mundo devia ser filho de chocadeira.
Como foi trabalhar com Sherek e o Gato de Botas? Houve alguns rumores sobre suas roupas
íntimas...
Pinóquio: Tudo boato. Foi só mais uma das brincadeiras daquele burro fofoqueiro. Quanto ao
Gato de Botas, éramos apenas bons amigos e nada mais.
BL: Seu nariz está crescendo.
Pinóquio: Ops! Foi mal. Hum... A entrevista está encerrada.
1 comment:
Adorei o post genial esta ideia de entrevistar o Pinóquio,não sabia dos boatos de romance entre ele e o gato de botas kkkk abraços
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