Certo dia, no Paraíso, Adão acordou com o seu
par de neurônios em curto-circuito e percebeu que estava só. Para onde quer que
ele olhasse, só via animais. Bestas sem alma, que nem sequer sabiam existir.
E por não haver nenhuma criatura semelhante a
ele, Adão entrou em crise existencial e foi para debaixo da macieira matutar
sobre sua desdita. Foi aí que apareceu o arcanjo Gabriel, a quem cabia zelar
pela ordem no Jardim do Éden. Nada que saísse de sua confortável rotina lhe
escapava. Gabriel era, por assim dizer, o síndico do condomínio.
- E aí, Adão? O que é que tá pegando? –
Perguntou o arcanjo, ao ver Adão pensativo, duro como uma estátua de Rodin.
O homem soltou um suspiro, sem saber por onde
começar, para explicar o que lhe magoava por dentro. O fato é que, cansado da
dura vida de funcionário público, e de conversar com animais que nada lhe
respondiam, resolveu pensar num modo de dar um fim à pasmaceira geral que
dominava a sua, até então, breve existência.
- Tava aqui pensando... – Começou ele.