Monday, July 24, 2017

O Templo dos Ventos


Hoje terminei a leitura do primeiro livro da Trilogia dos Pássaros, de Marcelo Zaniolo. É seu livro de estréia e, apesar desse detalhe, ou justamente por isso, esse jovem escritor se sai bem de sua primeira investida. Todos os elemementos narrativos de uma boa história estão presentes.
O escritor contempla com generosidade cada aspecto da Jornada do Herói, desde O Chamado até a Jornada propriamente dita. Contudo, não há em sua escrita uma tentativa fria de seguir uma receita cômoda e certa para levar adiante e concluir satisfatoriamente um projeto literário. Marcelo não se furta em fazer seus experimentos, principalmente na construção de seus personagens, que se mostram tridimensionais e factíveis em suas contradições humanas, cada qual com sua força e fraqueza, medos e incertezas. Em vários momentos, me vi entre eles, compartilhando seus dilemas e suas emoções.
Apesar disso, o início da leitura foi arrastado e demorei mais do que de costume para estabelecer uma conexão com a história, talvez mais por conta de outros afazeres e meus próprios escritos. Agora que cheguei ao fim, penso que deveria ter me concentrado no livro um pouco mais, dada a satisfação que a leitura me proporcionou.
O Templo dos Ventos não se mostra de imediato. O leitor precisa se esforçar para “entrar” na história, mas quando o consegue, junta-se aos jovens protagonistas, Noah, Átila e Deni em sua jornada por um mundo devastado em uma grande inundação, que parece uma referência direta ao Dilúvio biblíco. Há nessa jornada um componente de natureza mística, que se traduz numa antiga dívida dos homens para com os pássaros, e com os quais os personagens estabelecem uma ligação semelhante aos elementos totêmicos dos povos indígenas. Ligação essa que se fortalece nos propósitos que eles mal vislumbram, ao ultrapassar os limites da aldeia e descerem a montanha que habitam, em direção ao desconhecido.
Destarte, penso que o jovem escritor Marcelo Zaniolo estreou com o pé direito no segmento de aventura e fantasia, estabelecendo com autoridade seu espaço na vigorosa literatura independente nacional. Que seja bem-vindo, pois. Fica aqui minha torcida para que continue ousando em seus experimentos literários e consolide seu estilo narrativo.

O Templo dos Ventos, Marcelo Zaniolo.
 https://www.facebook.com/literariocast/
308 páginas. Capa de Jean Milezzi.

1 comment:

Marcelo Zaniolo said...

Nossa, amigo, que BOM ler isso, ainda mais no Dia Nacional do Escritor! Hehe

Muito obrigado MESMO pela oportunidade de ser lido por um autor que eu admiro tanto, pelas palavras e pelo apoio. Espero seguir melhorando e agradando, Gilmar. E que esse tenha sido, de fato, apenas um primeiro passo.

Obrigado mesmo pela crítica e pelos conselhos, principalmente quanto ao início da história. Revisitarei alguns pontos para tentar melhorá-los.

De coração, muito obrigado. Um forte abraço e sucesso! o/