Saturday, September 09, 2017

O Dono da Rua

Este conto faz parte de uma série infantil sobre cidadania
Mal amanheceu o dia, os três garotos já estavam a caminho da escola. Juca e Zeca conversavam animadamente. Era um dia de atividades especiais na escola onde estudavam, por conta da programação da Semana do Trânsito. Haveria a exibição de uma peça de teatro, leitura de redações, poesias e pinturas. Tudo feito pelos alunos e seus professores.
Apesar da animação de Juca e Zeca, Pedrinho não estava muito animado e caminhava um passo atrás deles. Se fosse possível ele escolher, com certeza iria preferir dormir mais um pouco a ir para a escola. Assim era Pedrinho, avesso a qualquer atividade que lembrasse disciplina e compromisso.
Apesar de temperamentos diferentes, os três eram muito amigos. Por isso, Juca e Zeca sempre conseguiam convencer Pedrinho a acompanhá-los no cumprimento de suas tarefas, embora ele aproveitasse qualquer oportunidade para fazer coisas erradas. Ele não perdia a chance de jogar pedras em cães e gatos que encontrava pelo caminho, apertava campainha das residências, entre outras coisas.

Depois de alguns minutos de caminhada, Juca e Zeca perceberam que Pedrinho havia ficado para trás, como sempre acontecia quando ele aprontava alguma traquinagem. Eles voltaram até uma esquina e encontraram Pedrinho com o pé na faixa branca, fingindo atravessar a rua só para ver os carros pararem. Eles correram até ele.
- Não faça isso! – Gritou Juca. – Você pode provocar um acidente.

- Isso não vai dar certo. – Disse Zeca.
Sem fazer caso da advertência, Pedrinho voltou a pisar na faixa e zombou da preocupação deles. Foi quando ouviu o ruído de pneus de um carro desgovernado que vinha na sua direção. Felizmente ele conseguiu pular e sair da pista, antes que o veículo o alcançasse.
Mas não pensem que aquela traquinagem ficou sem castigo. Ao pular de volta à calçada, Pedrinho torceu o pé e caiu estatelado no chão. Juca e Zeca se apressaram em ajudá-lo, mas lhe deram uma bronca, depois que viram que ele estava bem.
- Veja só o que você fez. – Disse Juca.
- Podia ter provocado um acidente muito sério. – Completou Zeca. – Você podia ter morrido.
Pedrinho não conseguiu dizer nada. O motorista do carro que quase o atropelou lhe passou uma dura descompostura e foi embora, ainda furioso. Ele ficou vermelho de vergonha e baixou os olhos sem conseguir encarar as pessoas que o rodearam.
Felizmente para ele, os amigos o tiraram daquela situação e o levaram para sua casa. Horas depois ele estava num hospital para imobilizar o pé torcido, sob o olhar muito bravo de seu pai. Ele logo descobriu que não havia sido um acidente, mas outra de suas travessuras inconsequentes.
- Você sabe que foi um irresponsável, não sabe? – Disse-lhe o pai.
Pedrinho baixou os olhos sem dizer nada e o pai dele continuou:
- A faixa de segurança deve ser usada com bom senso. O fato de o veículo ser obrigado a parar não o isenta de responsabilidade pela sua própria segurança. O Motorista poderia não tê-lo visto. A condução de um veículo exige atenção em várias coisas ao mesmo tempo e, às vezes, um imprevisto pode provocar um acidente muito sério. Hoje o imprevisto foi você. Pense nisso.
Pedrinho queria muito dizer alguma coisa, mas sabia que não teria como se justificar. Seus pais já não acreditavam quando ele se desculpava e dizia que ia mudar. Ele não tinha mais como prometer coisa alguma, mas estava sinceramente arrependido e foi dormir naquela noite refletindo sobre as bobagens que tinha feito e acabou sonhando com o tipo de pessoa que poderia ser no futuro, se não mudasse suas atitudes.
No sonho ele era um pedestre fantasiado de palhaço que tentava atravessar uma rua com o sinal fechado.  De repente surgiu um carro em alta velocidade e quase o atropela. Ele deu uma pirueta e caiu sentado no chão, enquanto ouvia o riso do semáforo.
- Filho de uma égua! Vai tirar o pai da forca, é? E você tá rindo de quê?
- Não é óbvio, meu caro pedestre. – Diz o semáforo todo cheio de si. – Estou rindo da sua trapalhada imprudente. Você podia ter sido atropelado, não acha?
- Não acho, não! Por que você não muda para o verde de uma vez? Tá com a lâmpada queimada?
- Tem um tempo certo para eu mudar, que deve estar sincronizado com o sinal para os automóveis pararem, seu estúpido!
O palhaço Pedrinho não se deu por satisfeito com aquela bronca do semáforo e continuou insistindo.
- Tempo certo o quê! Eu tô com pressa e vou atravessar agora.
- Não seja tolo. Espere mais um pouquinho, que eu já vou abrir.
- Espero é nada.
- Vai fazer besteira.
- Besteira é ficar aqui lhe dando atenção. Fui.
Dito isso, o palhaço Pedrinho saiu da calçada para atravessar a rua, bem no horário de maior movimento.
- Não quero nem ver. – Disse o semáforo, fechando os olhos.
Um ônibus passou naquele momento e quase o atropelou. O palhaço caiu novamente no chão e xinga o motorista.
- Sua besta quadrada! – Gritou ele, a plenos pulmões.
Naquele momento, o semáforo mudou o sinal para os pedestres atravessarem a rua e o palhaço ficou muito bravo.
- Bonito, hein? Agora você muda!
- Claro! Tava na hora do verde para pedestre e vermelho para os carros.
- Semáforo idiota. Sabe de uma coisa? Eu vou embora. Já perdi muito tempo aqui.
- Já vai? Que pena! Eu estava gostando tanto de prosear com alguém tão educado, assim como você. – Disse o semáforo com desdém.
O Palhaço ia responder, mas resolveu ir embora de uma vez.
- Acho melhor eu atravessar essa rua, antes que você mude de novo.
- Não pode. – Retruca o semáforo.
- E por que não? Posso saber?
- Porque agora eu mudei para vermelho, não tá vendo?
O palhaço ficou indignado e chutou o semáforo de novo, num acesso de fúria.
- Não acredito que você fez isso de novo. - Ele disse, enquanto preparava outro chute no pobre sinal de trânsito.
- Socorro! Polícia! Alguém me salve desse vândalo. – Gritou o semáforo assustado.
Um carro da polícia apareceu com a sirene ligada e dois policiais desceram do veículo para averiguar a ocorrência.
- O que está acontecendo aqui cidadão? – Pergunta um dos policiais.
- Acontece que este sinal estúpido está-me fazendo de tolo. – Responde o palhaço, ainda de mau humor.
Sem se importar com a presença dos policiais, ele voltou a chutar o semáforo.
- Pois para mim parece que o senhor está danificando propriedade pública. – Diz o segundo policial, com cara de bravo.
- É isso mesmo, seu guarda. Eu estava cumprindo meu dever, quando esse “Senhor” me atacou e... Sem nenhuma provocação, devo dizer.
O palhaço finalmente percebe que está metido numa grande encrenca e tenta se explicar.
- Não. Eu só...
O policial bravo agarra o palhaço pela gola do casaco, enquanto o outro policial faz anotações da ocorrência.
- Vandalismo dá cadeia, sabia?
- E não se esqueçam das tentativas de furar o sinal vermelho. – Diz o semáforo acusador.
O policial que segura o palhaço pela gola do casaco ficou ainda mais bravo
- Então furou o sinal, hein? Isso é grave.
- Muito grave. – Diz o outro policial.
- Gravíssimo! – Fala o semáforo, doido para se livrar logo daquele encrenqueiro.
Mesmo contido pelo policial que o segurava, o palhaço tentou chutar o semáforo para obrigá-lo a calar-se. O policial bravo o sacudiu e lhe deu voz de prisão, sem mais delongas.
- “Teje” preso!
- Em flagrante delito. – Completa o policial que anota a ocorrência.
- Mas eu não fiz nada.
- Como não? O senhor é um mau cidadão. – Respondem os policiais em coro.
- Não!
- Sim!
- Nããão! – Gritou ele novamente, enquanto se debate desesperado.
Pedrinho acordou todo suado e ofegante. Confuso, ele demorou a perceber que estava em seu quarto.
- Puxa! – Exclamou ele aliviado. – Foi só um sonho maluco.
Ainda abalado, ele se levantou para ir ao banheiro. Logo depois se deitou novamente e voltou a dormir. Mas quem disse que aquele sonho tinha acabado? Não acabou não. Pedrinho tinha ainda outras lições para aprender.
Ele entrou no sonho novamente e deixou de ser pedestre. O palhaço comprou um carro depois da confusão com o semáforo. Ele assim pensou que estaria livre de situações como aquela, mas não havia aprendido nada. Continuou agindo como se fosse o dono da rua e não se importava com ninguém. Seu automóvel tinha o som mais potente que conseguiu encontrar, para percorrer as ruas da cidade ouvindo músicas que só ele gostava no último volume.
Só de Birra, o palhaço sempre percorria as avenidas de pista dupla em velocidade não recomendada pelos sinais de trânsito, aos quais ele sempre desrespeitava. Na pista da esquerda, de maior velocidade, andava devagar atrapalhando o trânsito. Na pista da direita, para veículos lentos, ele andava em velocidade além do permitido e forçava ultrapassagens. Dar sinal para as conversões que fazia, nem pensar. Furar sinal e estacionar em local não permitido eram coisas corriqueiras para o palhaço. Ele sempre dirigia perigosamente, como se fosse o único motorista na rua. Tanto fazia que os sinais de trânsito tremiam quando ele aparecia, pois havia sempre a possibilidade de um acidente muito sério.
Essa possibilidade de acidente surgiu quando ele apareceu onde tinha se envolvido naquela confusão com o semáforo. O palhaço parou na pista quando o sinal estava verde para ele, só para provocar.
- Fala aí poste... Já foi promovido a vaga-lume?
- Ora, se não é o palhaço de volta. Não pode ficar aí parado, sujeito. O sinal tá aberto para você, não vê?
- Sem essa, poste! Quem diz quando e onde parar sou eu mesmo.
O semáforo percebe veículos se aproximando rápido para aproveitar o sinal verde e tenta chamar a atenção do palhaço.
- Saia daí, antes que alguém não perceba que você está parado. Você está colocando outras pessoas em perigo com sua teimosia.
- Os trouxas que se cuidem, que de mim cuido eu.
Para tentar evitar um acidente, o semáforo altera suas luzes para amarelo e, depois para o vermelho, mas é tarde demais. Um veículo não consegue parar e bate. O palhaço tem tempo apenas para esboçar uma tentativa inútil de proteger-se com os braços.
Pedrinho é sacudido por Zeca e Juca, que entraram no seu quarto logo cedo.
- Acorda Pedrinho! – Diz Zeca, ao vê-lo debater-se.
- Isso lá é hora de ter pesadelo?
Quando Pedrinho finalmente abre os olhos, mal pode acreditar que está em segurança no seu quarto.
- Aquele sonho de novo! – Exclamou Pedrinho, ainda ofegante.
- Que sonho? – Perguntou Juca.
- Sonhei que eu era um palhaço maluco, que se achava o dono da rua e vivia arrumando confusão.
Juca e Zeca se olharam e começaram a rir.
- Tão rindo de quê, posso saber? – Perguntou Pedrinho indignado.
- Você no sonho não é muito diferente da vida real. – Disse Zeca.
- Fala sério! Então eu sou um palhaço?
Os garotos voltam a rir da expressão indignada de Pedrinho. Ele ainda não conseguia relacionar o palhaço do sonho e suas atitudes egoístas com o seu comportamento na vida real.
- Você costuma agir como o palhaço que era no sonho. – Disse Juca.
- Sim. – Confirmou Zeca. – Egoísta e mal-educado.
- O dono da rua.
Finalmente caiu a ficha e Pedrinho entendeu o quanto tinha de verdade nas palavras de seus amigos. Ele realmente não costumava pensar muito sobre seus deveres como cidadão e seu comportamento refletia isso, ao desrespeitar o direito dos outros em espaços públicos, como ruas e avenidas. As regras de trânsito que se aplicavam aos pedestres era algo que ele costumava ignorar totalmente, seja pela falta de educação, seja por simples pirraça e ausência de cidadania.
- Puxa! Eu sou tudo isso?
A pergunta de Pedrinho era para si mesmo. Ele ficou imaginando se o palhaço do sonho não seria o que ele viria a ser, no futuro. Talvez o sonho tenha ocorrido para alertá-lo para a necessidade de mudanças em suas atitudes.
Ainda pensando sobre isso, ele viu a porta se abrir e seu pai entrar no quarto.
- Você ainda está de pijama? Vai chegar atrasado.
- Atrasado?
- Sim. Para a comemoração da semana do trânsito na escola, esqueceu? Disse Juca.
- Por isso a gente tá aqui. – Completou Zeca. – Seu pai vai nos levar, esqueceu?
Era verdade. Pedrinho não lembrava que haviam combinado de se encontrar em sua casa de manhã cedo. Seu pai os levaria para a escola, para que ele não forçasse o pé torcido.
- Mas eu nem consigo pôr o pé no chão. Como vou andar dentro da escola?
- Eu aluguei uma cadeira de rodas pra você. – Respondeu o pai. – Mas terão que voltar a pé depois. Tenho uma reunião e não poderei buscá-los. Agora trate de se arrumar e vir tomar café. Não temos muito tempo.
Sem demora, Pedrinho saiu pulando para o banheiro feito um saci. Alguns minutos depois, seu pai o acomodava no carro. Juca e Zeca foram para o banco de trás e colocaram o cinto de segurança.
- Vocês estão usando o cinto? – Perguntou Pedrinho admirado. – Sempre achei que no banco de atrás não era necessário.
- Mas é necessário, sim. – Disse o pai dele. – Seus amigos estão certos, pois no caso de acidente, quem não estiver preso ao cinto pode sofrer lesões graves.
- E sair pela janela também. – Disse Zeca. – Eu é que não quero sair voando por aí.
- Exatamente. – Concordou o pai de Pedrinho. – O cinto ainda é a melhor solução para evitar as consequências de acidentes.
Antes de chegar ao primeiro semáforo, Pedrinho viu seu pai diminuir a velocidade quando a luz ficou da cor amarela. Ele estava ansioso para chegar à escola e perguntou por que o pai não acelerou antes do sinal mudar para vermelho.
Antes que seu pai respondesse, um menino atravessou a rua de bicicleta bem na frente do carro deles.
- Esse é um bom motivo, você não acha?
Felizmente o carro já havia desacelerado o suficiente para frear com segurança e evitar um acidente. Pedrinho viu-se obrigado a concordar, diante daquela evidência. Nos últimos dias tinha aprendido muitas coisas e sentiu que havia muito mais ainda a aprender.
- O sinal amarelo indica não apenas que a mudança para o sinal vermelho vai acontecer em seguida, mas é também  um alerta para tomarmos mais cuidado – Explicou o pai.
O sinal mudou para verde e eles continuaram o trajeto até a escola. Pedrinho começou a prestar atenção nos sinais de trânsito e viu que seu pai se mantinha dentro dos limites de velocidade, apesar de alguns motoristas apressados tentarem forçar ultrapassagens e o xingarem. Ele concluiu que ser correto não era fácil.
Eles logo chegaram à escola e Pedrinho pôde experimentar a sensação de “pilotar” uma cadeira de rodas. Entretanto, já tinha aprendido suficiente sobre educação e cidadania para agir corretamente e não pôr em risco a integridade física das pessoas e a dele próprio. Deu-se feliz por ser uma situação passageira, ao contrário de outros cadeirantes que viu no pátio da escola.
- Puxa! Quantas pessoas em cadeiras de roda. – Ele comentou para seus amigos.
- Sim. Existem muitas pessoas nessas condições. – Disse Juca.
- É verdade. – Falou Zeca. – E alguns foram vítimas de acidentes de trânsito, sabia?
“Esses, pelo menos, não morreram”. Pensou Pedrinho, subitamente triste. Ele se dava conta da enorme tragédia que era a questão de segurança no trânsito no Brasil. Isso era ainda mais triste porque a maioria dos acidentes de trânsito acontece por falta de educação, imprudência e embriaguez.
- Ainda bem que você percebeu a tempo o que estava fazendo. – Disse Zeca, ao perceber o olhar de tristeza de Pedrinho.
- É verdade. – Falou Juca. – Assim, quando for motorista,  você não contribuirá com essa vergonha nacional.
- Espero que não. – Respondeu Pedrinho, arrependido das bobagens que fazia por não respeitar as regras de convivência em espaços públicos, inclusive como pedestre.
E assim conversando eles chegaram à quadra de esportes da escola, onde os alunos da última série apresentavam uma peça de teatro num palco improvisado.
- Olha só que legal. – Disse Juca. – Eles conseguiram representar bem as coisas que acontecem no trânsito.
- Caraca! – Exclamou Pedrinho, ao ver a cena representada.
No palco, dois policiais deram voz de prisão a um motorista bêbado vestido de palhaço. Pedrinho não acreditou que o sonho que tivera estivesse ali, representado no palco. Era muita coincidência.
Na pantomima apresentada no palco, os policiais cercavam o palhaço com um bafômetro. Este tenta fugir e se livrar de fazer o teste. A coreografia se transforma num número musical, onde os eles representam um flagrante.
Você que burla as regras
Não espera o sinal e mete o nariz
Você que xinga a mãe
Que é violento e Faz o mundo infeliz.


Você que pensa que é o dono da rua
Não respeita os sinais, precisa aprender a lição.
Para tal desrespeito existe o castigo
Por isso eu lhe digo que a rua que segue
é longa e sem fim.

Você vai aprender não ser o único a ter seus direitos.
Você vai entender, que da confusão,
será sempre o suspeito e que
as regras existem para que todos possam
Usufruir seus direitos

Você vai aprender
Que não existe o seu direito
Sem que haja respeito ao direito do outro

Você vai aprender
Vai aprender
Vai aprender
Tudo isso direito!

Ao fim do número de dança, os atores se imobilizam no palco e a cortina se fecha sob o aplauso entusiasmado da plateia.
- Puxa! Muito bom. – Exclamou Pedrinho. – Pena que a gente não chegou a tempo de ver a peça desde o início.
- Eles voltam a apresentar a mesma peça mais tarde. – Disse Juca, atento à programação da Semana do Trânsito na escola.
Enquanto aguardavam a reapresentação da peça, eles percorreram vários estandes. Em cada um, aprenderam fatos curiosos sobre a evolução das leis de trânsito, junto com o desenvolvimento da indústria automobilística e dos centros urbanos no mundo todo.
- Vocês sabiam que a primeira lei de trânsito no Brasil foi registrada em 1910? – Perguntou Pedrinho, depois de ler um dos panfletos distribuídos na escola. – Aqui diz que ela tratava da obrigatoriedade em se reduzir a velocidade dos veículos para evitar acidentes,
- Sério? Pensei que nessa época só tinha carroça. – Falou Zeca.
- Não tinha só carroça, não. Já em 1871, Francisco Antonio Pereira importou o primeiro veículo automotor que se tem notícias no Brasil. Era um carro movido a vapor. Nessa época, os motoristas eram chamados de motorneiros.
- Puxa! Não sabia que esses folhetos eram tão interessantes. – Disse Juca.
- Escuta só essa... Em 1891, Santos Dumont trouxe o primeiro veículo movido à combustão interna para o Brasil.
- Combustão interna? O que é isso? – Perguntou Zeca, sem entender.
Pedrinho, que já tinha lido todo o folheto, não se fez de rogado.
- São veículos equipados com motores à explosão, como é o caso do motor à gasolina ou diesel. A mistura do combustível com o ar explode no cilindro e movimenta o pistão, que transmite esse movimento às várias engrenagens, até chegar às rodas do veículo.
- Sabidão, hein?
- Ficar sentado nesta cadeira tem suas vantagens. – Retrucou Pedrinho.
- Tem mais alguma coisa interessante aí? – Perguntou Juca.
- Aqui diz também que em 1922, o Decreto Legislativo número 4.460 proibiu a circulação de carros de boi nas estradas, além de limitar a carga máxima que podia ser transportada por veículo. Em 1928, o Brasil adota normas internacionais para circulação de veículos no território nacional e, em 1941, é instituído o primeiro Código Nacional de Transito.
- Uau! – Exclamou Zeca entusiasmado. – Tem tudo isso aí?
- Sim. E tem mais. Em 1966, o código foi ampliado e passou a ter 131 artigos.
- Dirigir começou a ficar complicado. – Disse Juca.
- Ficou mesmo. – Retrucou Pedrinho. – Mas nessa época também surgiu o RENAVAM. Isso unificou o registro de veículo em todo o território nacional.
- Tenho a impressão que as mudanças nas leis de trânsito não pararam por aí, não é? Perguntou Zeca.
- Não param mesmo. Em 1993 começaram as  discussões para o novo Código Brasileiro de Trânsito, que foi instituído em 1997 e já tem várias alterações importantes. Diz aqui que, em 2014, muitas infrações de trânsito se tornaram também infrações penais.
- Credo! Que palavreado difícil. – Falou Zeca. O que isso quer dizer?
- Acho que algumas infrações de trânsito viraram crimes também. – Respondeu Juca.
- Isso mesmo. – Disse Pedrinho, enquanto consultava os folhetos. – Ao dirigir embriagado, por exemplo, o motorista pode até ir preso. A pena varia de  seis meses de detenção até 3 anos.
- Nada mais justo, não é? O motorista embriagado põe a vida dele e, também dos outros em risco. – Comentou Zeca.
Pedrinho se viu forçado a concordar. Ele havia finalmente compreendido o significado de cidadania e a necessidade de se respeitar regras e leis, elaboradas para preservar o direito e a segurança de todos.

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