Sunday, August 01, 2021

O Despertar de Berenice

 

Primeiro a sensação de flutuar num vazio escuro. Depois um zumbido irritante penetrou seu cérebro, como uma fina e afiada adaga. A dor era quase insuportável e ela teria desmaiado, se já não estivesse morta. Depois, um silêncio profundo e aterrador, mas a escuridão se foi, e ela viu seu próprio corpo deitado num caixão. Estava rodeado de flores. Eram margaridas e crisântemos. Odiava crisântemos. Tinha cheiro de morte, me falou, entre risadas, ao se dar conta da piada involuntária. Teria realmente morrido? Tudo indicava que sim, mas como era ainda capaz de pensar? Não conseguia lembrar de como seu corpo foi parar naquele ataúde. Nem mesmo sabia se devia lamentar a vida que havia deixado para trás. Fora uma vida boa? Ruim? Também não conseguiu lembrar. Sabia apenas que estava morta, pelo menos era o que parecia. Entretanto, de alguma forma, ainda estava consciente de si, já que assistia ao próprio funeral.