Sunday, March 30, 2014

Leila Diniz

Leila Diniz era um paradoxo ambulante. Você acreditaria que uma professorinha de jardim de infância, de subúrbio, tivesse força e atitude para afrontar o conservadorismo reinante no Rio de Janeiro da década de 1960? Pois aquela menina meiga e doce fez bem mais que isso e transformou-se ela própria num ícone da emancipação feminina. Apesar disso foi invejada e criticada, tanto pela sociedade conservadora das décadas de 1960 e 1970, quanto pelas feministas, que a consideravam apenas um objeto sexual.
Aparentemente alheia ao turbilhão de polêmicas que causava, Leila Diniz seguiu sua trajetória de vida ignorando tabus e preconceitos numa época de grande repressão política e social. O Brasil vivia os anos de chumbo da ditadura, mas ela escandalizava o país inteiro ao exibir a sua gravidez de biquíni na praia, e chocava com declarações explícitas sobre sua própria sexualidade: “ Transo de manhã, de tarde e de noite”, dizia aos carolas de plantão. 


Considerada uma mulher ousada e à frente de seu tempo, ela fazia questão de demonstrar seu
repúdio às convenções em declarações a respeito de sua vida pessoal de maneira franca e direta, sem nenhum tipo de vergonha ou constrangimento. Em uma entrevista que, deu ao jornal O Pasquim em 1969, falou tantos palavrões que obrigou o editor a usar de um artifício para driblar a censura. A cada trecho, os palavrões eram substituídos por asteriscos.
Na oportunidade, Leila fez uma declaração que surpreendeu até as integrantes do Women’s Liberation From: “Você pode muito bem amar uma pessoa e ir para cama com outra. Já aconteceu comigo”. Com essa entrevista, o jornal O Pasquim bateu recorde de venda e provocou a instauração da censura prévia no país, medida que ficou conhecida como “Decreto Leila Diniz”.

Leila casou-se aos dezessete anos com o cineasta Domingos de Oliveira. O relacionamento durou três anos e lhe proporcionou a oportunidade de iniciar-se na carreira de atriz e, logo depois, começou também a participar de novelas na TV Globo. Algum tempo depois, já separada, ela casou-se novamente com o cineasta moçambicano Ruy Guerra. Desse relacionamento nasceu sua filha Janaína.

Ao todo, Leila Diniz participou de quatorze filmes, doze telenovelas e várias peças teatrais. Em 1964, atuou com Cacilda Becker em “O Preço de um Homem”. O filme “Madona de Cedro”, que marcou um grande momento em sua carreira artística, sob a direção de Carlos Coimbra, foi baseado no romance de Antônio Callado. Em 1968, representou o país no Festival de Berlim daquele ano, com o filme “Fome de amor”, de Nelson Pereira dos Santos. Também foi eleita a Grávida do Ano no programa do Chacrinha, numa participação marcada pela irreverência que sempre a caracterizou.

Leila Diniz poderia ter feito uma carreira brilhante, mas de tanto expor-se e meter-se em polêmicas,
ela acabou perseguida pelos cães da ditadura. Foi acusada de envolvimento com militantes de esquerda e seu contrato com a TV Globo não foi renovado. Já sem ter onde trabalhar ela foi socorrida pelo apresentador de TV Flavio Cavalcanti, que a abrigou em seu sítio e, depois, lhe deu emprego como jurada em seu programa de auditório.
Sem muitas opções para tocar sua carreira artística, Leila Diniz voltou-se para o teatro de revista onde conseguiu relativo sucesso com a peça tropicalista “Tem Banana na Banda”, que nada mais eram que improvisações a partir de textos de Millôr Fernandes, Luiz Carlos Maciel, José Wilker e Oduvaldo Viana Filho. Nessa ocasião, é “coroada” Rainha das Vedetes por
Virginia Lane . Em 1971, é eleita Rainha da Banda de Ipanema por Albino Pinheiro e seus companheiros.


Leila Diniz morreu em 1972, aos 27 anos de idade, num desastre aéreo na Índia. Ela retornava de uma viagem à Austrália, onde fora para receber um prêmio como melhor atriz com o filme “Mãos Vazias”. Naquela fatídica ocasião, sua filha Janaína ficou aos cuidados de Marieta Severo e Chico Buarque de Holanda durante muito tempo, até que o pai pudesse assumir seus cuidados. Consta que seu cunhado, quando foi à Nova Délhi, na Índia, para tratar dos restos mortais da atriz, acabou encontrando seu diário, que continha uma última frase onde ela, provavelmente estava se referindo ao acidente: “Está acontecendo alguma coisa muito es....”. Leila parece ter pressentido o que estava por vir.
Assim, Leila Diniz, a professorinha, que se tornou “A Mulher de Ipanema”, e defendia o amor livre e o direito da mulher ao prazer sexual, será sempre lembrada como símbolo da revolução feminina, não como uma teórica ou militante de uma causa, mas por suas atitudes e ideais que rompiam preconceitos e tabus. Uma mulher de coragem, que não se eximia em demonstrar abertamente sua opinião.

Da esquerda para a direita: Eva Todor, Tonia Carreiro, Eva Vilma, Leila Diniz, Odete Lara e Norma Bengel.

1 comment:

Anonymous said...
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