Wednesday, July 13, 2016

Tecnicas Narrativas para Escritores Aspirantes



Estruturas Narrativas

Matthew Jockers, um americano, programador de computadores e PHD em literatura, criou um programa estatístico para analisar a estrutura narrativa das obras literárias. Ele identificou até oito padrões, presentes em cerca de 40.000 obras. A partir desses padrões, ele concluiu que as obras se assentam em dois modelos apenas, que chamou “O homem na Montanha” e “O homem no buraco”, numa referência à jornada do protagonista. No primeiro modelo, o protagonista segue uma trajetória de queda e ascensão (reerguimento). Nesse caso, o protagonista chega ao fundo do poço mais ou menos no meio da obra, quando dá início à superação e reerguimento.
Já no segundo modelo, o protagonista segue uma trajetória ascendente, com situações de conflitos mais amenas, onde a redenção, vitória ou conquista, acontece também no meio da trama. A segunda metade da obra se concentra na resolução dos dilemas e ganchos dramáticos criados ao longo da história.

Segundo Jockers, sobre esses dois modelos se apoiam 54% das obras pesquisadas. Em outro estudo, realizado após o desenvolvimento dos sistemas computacionais a partir do ano 2000, o autor elegeu as obras que mais influenciaram a literatura, a partir da identificação de elementos da estrutura narrativa que se repetiam em obras que vieram depois. Nesse estudo foram 3.532 obras, de diversos autores. Entre eles: Jane Austen, Dickens, Melville e Mark Twain. O resultado da análise mostrou que a autora inglesa foi a que mais influenciou as gerações de escritores que surgiram depois dela, considerando a estrutura das obras, o vocabulário e a forma narrativa.

Em um sentido mais amplo, há uma estrutura narrativa na literatura e nas artes audiovisuais contemporâneas que foi encontrada no poema épico Gilgamesh, escrito há 4.000 anos atrás. A obra, que narra as façanhas de um rei, já continha os elementos narrativos usados até hoje, que pressupõe uma jornada em busca de algo, que pode ser um tesouro, uma conquista, ou simplesmente uma transformação. Essa jornada tanto pode ser no sentido sentido literal, de deslocamento num espaço geográfico, quanto no sentido figurado, como ocorre quando o personagem se envolve com suas próprias emoções e está em busca de si mesmo.
Falando da Jornada do Herói, Albert Paul Dahoui comentou em um bem elaborado artigo o livro de Joseph Campbel, “O herói de Mil Faces”, uma análise que identifica os elementos principais de uma trama, através do estudo da estrutura presente em diversas narrativas, desde o aparecimento da escrita até os dias atuais.
Segue abaixo, o artigo de Dahoui na integra:



A Jornada do Herói
Artigo de Albert Paul Dahoui

Joseph Campbell lançou um livro chamado O herói de mil faces. A primeira publicação foi em 1949, sendo o resultado de um longo e minucioso trabalho que Campbell desenvolveu ao pesquisar a estrutura de mitos, lendas e fábulas. Seu trabalho de pesquisa também analisou histórias modernas, assim como muitos roteiros de filmes. Sua primeira observação foi que, em todas as histórias, existe um herói e que a narrativa gira em torno de suas peripécias. Nem sempre o herói é um ser humano, podendo ser um grupo de pessoas, um animal ou uma figura mitológica.  Campbell desenvolveu uma estrutura de eventos que demonstra que o herói passa por doze etapas. A seguir, iremos abordar cada uma delas para lhes dar uma idéia de sua estrutura básica, mas achamos conveniente alertar para os seguintes aspectos.

1) Nem toda história se encaixa no caso deste modelo. Portanto, se você está desenvolvendo um romance ou já escreveu um, não se preocupe se ele não se encaixar perfeitamente no modelo da jornada do herói. 2) Há histórias que se encaixam no modelo de Campbell, mas não contém todas as etapas. Não há problema. Não há necessidade de reestruturar a história só porque faltam alguns itens. Se sua história já é boa, não mexa só para cair no modelo de Campbell. 3) No livro O sucesso de Escrever de nossa autoria, mencionamos a estrutura de três atos. O modelo de Campbell também pode ser reduzido ao modelo de três atos, e no decorrer da exposição, mencionaremos cada um dos atos e seus pontos de virada. 
Vamos, portanto, ao modelo de Campbell, também conhecido como os doze passos de Campbell e Vogler. 

Passo 1 – Mundo Comum. 
O herói é apresentado em seu dia-a-dia. 
Dica: Use a técnica de mostrar e não dizer que explicamos em detalhe no livro O sucesso de Escrever. No esquema de três atos, trata-se do primeiro ato ou parte, quando expomos como é o nosso protagonista. 
Como sou amigo dos exemplos, vamos criar uma historia, exemplificando etapa por etapa. Exemplo: Nosso herói é um policial a ponto de se aposentar. Seu único desejo é cumprir o pouco tempo de serviço e se aposentar numa chácara que ele levou anos para comprar. É viúvo e detesta gente de modo geral.

Passo 2 – Chamado à aventura 
A rotina do herói é quebrada por algo inesperado, insólito ou incomum. 
Dica: Não se esqueça de que só existe história se o personagem for interessante e se seu desejo for frustrado por um oponente. No O Sucesso de Escrever explicamos isso com maior profundidade. 
Dentro do esquema de três atos, ainda estamos no primeiro ato. 
A jornada do herói Exemplo: O policial recebe a missão de levar um perigoso bandido em custódia até outro estado, onde será julgado por vários crimes. Todavia, ele sabe que os comparsas desse criminoso farão de tudo para libertá-lo. 

Passo 3 – Recusa ao chamado 
Como já diz o próprio título da etapa, nosso herói não quer se envolver e prefere continuar sua vidinha. 
Dica: não se esqueça de que para haver um desejo frustrado é preciso que haja alguém ou algo (o vilão da história) que frustre a vontade do nosso herói. Definir bem o vilão é uma arte – veja O Sucesso de Escrever. Não deixem de ler sobre a Técnica do Actor’s Studio of New York – é uma preciosidade. 
Ainda estamos no primeiro ato ou parte. 
Cuidado: essa etapa nem sempre é necessária ou existe numa história. Pode ser que o evento ocorrido na etapa 2 (chamado à aventura) seja de tal ordem que não deixe margem a recusas. 
Exemplo: O policial tenta passar a missão para outro, mas o seu chefe lhe diz que não há nenhum perigo e que será uma viagem rápida e segura.

Passo 4 – Encontro com o Mentor 
O encontro com o mentor pode ser tanto com alguém mais experiente ou com uma situação que o force a tomar uma decisão. 
Dica: É muito importante se conhecer a Teoria dos Personagens descrita em O Sucesso de Escrever. Construir personagens consistentes e interessantes é meio caminho para o sucesso. Cuidado com os clichês. 
Ainda estamos no primeiro ato ou parte. Pode se colocar o ponto de virada aqui (veja O Sucesso de Escrever para maiores detalhes sobre pontos de virada, reviravoltas e embargos). 
Exemplo: Nosso policial descobre por meio de um investigador aposentado que um dos membros da gangue do bandido, que ele terá que levar em custódia, assassinou seu irmão, também policial, numa emboscada traiçoeira. Nesse ponto da história, ele se lembra de que jurou no leito de morte de sua mãe que descobriria o assassino de seu irmão (que tragédia, não?).
 
Passo 5 – Travessia do Umbral 
Nessa fase, nosso herói decide ingressar num novo mundo. Sua decisão pode ser motivada por vários fatores, entre eles algo que o obrigue, mesmo que não seja essa a sua opção. 
Dica: não se esqueça de suspender a descrença do leitor – veja esse ponto em O sucesso de Escrever. 
Normalmente é aqui que termina o primeiro ato, ou seja, logo após o primeiro ponto de virada. 
Exemplo: O policial aceita a missão, mas esperando que seja atacado pela gangue e prenda o assassino do irmão. Em vez de viajar de avião, ele resolve ir de carro, numa viagem muito mais perigosa. 2
A jornada do herói

Passo 6 – Testes, aliados e inimigos 
A maior parte da história se desenvolve nesse ponto. No mundo especial – fora do ambiente normal do herói – é que ele irá passará por testes, receberá ajuda (esperada ou inesperada) de aliados e terá que enfrentar os inimigos. 
Dica: Como se trata da parte mais extensa, é interessante se construir essa parte conforme os moldes típicos da Confrontação, ou seja, com embargos, pontos médios, novos embargos e reviravoltas. Para maiores detalhes, leia O Sucesso de Escrever, onde descrevemos cada um desses aspectos. Não se esqueça de usar todas as técnicas do Dialogo Obliquo, assim como as Técnicas de Narrativa (cadinho de emoções, progressão, manter a tensão etc.) descritas no livro já mencionado.
Exemplo: O policial viaja de carro. A gangue o persegue. Ele se refugia numa cidade pequena, onde conhece uma mulher que o ajuda, já que está levemente ferido. Um início de romance começa entre os dois. O bandido que está sendo levado em custódia consegue fugir, mas é preso pelo irmão da jovem, que ajuda nosso herói. Os elementos da quadrilha fecham todas as saídas da aldeia, mas existe um caminho pelas montanhas que somente um velho conhece. Nosso herói terá que convencê-lo a levá-lo pela trilha perigosa.
  
Passo 7 – Aproximação do objetivo 
O herói se aproxima do objetivo de sua missão, mas o nível de tensão aumenta e tudo fica indefinido. 
Dica: veja como manter o suspense – leia O Sucesso de Escrever (era óbvio que eu ia mencionar meu livro, não acha?). 
Continuamos na segunda parte – Confrontação. Podemos criar quantos embargos desejarmos, mas não esqueça a progressão da história e o ritmo da narrativa. Você já sabe onde procurar por esses tópicos, não é? 
Exemplo: os bandidos descobrem a trilha que o policial seguiu e começa a persegui-lo. Além de estarem sendo levados por um homem velho, o policial está ferido e o próprio bandido em custódia não o ajuda em nada, atrapalhando sua andança. Oh, dificuldades!!! 

Passo 8 – Provação máxima 
É o auge da crise – precisa dizer mais? 
Dicas: Lembre-se sempre para quem você está escrevendo. Ele irá estabelecer o tema, o gênero e a trama – vejam definições em O Sucesso de Escrever (acho que estou me tornando chato – prometo não mencionar mais meu livro que você pode comprar no site www.corifeu.com) 
Ainda estamos na Confrontação. 
A jornada do herói Exemplo: o herói está cercado e se refugia numa cabana. O velho é ferido. A munição está para acabar. Quando ele está para ser morto, espera uma ajuda inesperada da polícia local, avisada pela jovem que se apaixonou pelo herói.

Passo 9 – Conquista da recompensa 
Passada a provação máxima, o herói conquista a recompensa. 
Dicas: prometi não mencionar mais meu livro, portanto não posso dar mais nenhuma dica. Estão todas lá no livro...oops, quase me traí. 
Exemplo: após o herói ser salvo, ele consegue levar o bandido para o estado que o julgará por inúmeros crimes. Todavia, um dos bandidos da quadrilha fugiu, mesmo que a maioria foi presa ou morta.
Passo 10 – Caminho de volta 
É a parte mais curta da história – em algumas, nem sequer existem. Após ter conseguido seu objetivo, ele retorna ao mundo anterior. 
Dica: eu não daria muita importância a esta parte. Mencione-a en passant. 
Em tese, estamos na parte final ou terceira parte – Resolução. Você já sabe, para maiores detalhes sobre Resolução, leia... 
Exemplo: O herói toma um avião de volta para sua cidade de origem, sendo parabenizado por todos os colegas.

Passo 11 – Depuração 
Aqui o herói pode ter que enfrentar uma trama secundária não totalmente resolvida anteriormente.  
Dica: faça ser uma surpresa absoluta. 
Em tese, se houver uma reviravolta, você ainda estaria na confrontação, mas nada é fixo e imutável quando se escreve. Conheça as regras e depois quebre-as, se quiser. 
Exemplo: quando nosso herói entra em casa, após a longa viagem, ele é surpreendido com o bandido que fugira. Ele o espera para liquidá-lo. É o assassino de seu irmão e, antes de matá-lo, revela algo de estarrecedor a seu respeito – o crime fora encomendado pelo capitão da polícia, seu chefe – por isso os bandidos sabiam de todos os seus passos. Quando ele está para dar o tiro fatal, ele cai morto – a mulher que o ama o salva.  

Passo 12 – Retorno transformado 
É a finalização da história. O herói volta ao seu mundo, mas transformado – já não é mais o mesmo. 
Dica: ao se estruturar o personagem, existe aqueles que se transformam e os que permanecem inalterados. Normalmente, a história é melhor quando o herói se transforma em alguém melhor. 
A jornada do herói Exemplo: o herói casa-se com a jovem que o salvou e vai ser o chefe de policia da pequena cidade.
 
Última dica: escreva e reescreva, pois escrever um livro exige planejamento, treinamento e revisão – vejam as técnicas de revisão em O Sucesso de escrever – desculpem, eu menti quando disse que não ia mencioná-lo novamente. Um abraço e boa sorte. Precisando de mim, escrevam para comercial@corifeu.com 
Podem copiar e distribuir entre seus amigos. Só não podem vendê-lo. (Essa nota é parte integrante do artigo original).


 
Curvas de Suspense

Também conhecidas como curvas dramáticas, ou plots, as curvas de suspense estão no arcabouço de uma história bem contada. Mas o que seriam, afinal de contas?
Em toda história, seja num romance, conto ou roteiro, o autor apresenta um enredo ao leitor, que é conduzido por uma linha mestra do começo ao fim. É a história principal, inicia apresentando as informações básicas, assim determinadas pelo autor como essenciais. Essas informações servem tanto para situar o leitor (ou expectador) na trama, como para envolvê-lo e estabelecer a conexão necessária para que ele (o leitor/expectador) “entre na história” e se torne coautor, uma condição essencial para que a história se realize e exista em sua mente. Assim, a ideia “entrar na história” começa a fazer sentido.
Da premissa inicial, onde responde questões básicas (quem, quando e o quê), a linha mestra da história avança e apresenta o conflito e o opositor, resolução e epílogo. Essa linha mestra assume a representação de um gráfico, onde o clímax se situa no ponto máximo de tensão no meio da história.
Essa mesma disposição se repete em cada capítulo, que possui sua própria linha mestra, com começo meio e fim, que se conecta ao início de outro capitulo e outro, todos integrados à linha mestra principal, que conduz todo o romance até o epílogo.
Ao longo da linha mestra podem ocorrer tramas paralelas, com suas próprias linhas de desenvolvimento e personagens coadjuvantes, mas conectadas à evolução da trama principal.


Em cada capítulo de uma trama é importante inserir questões e situações de conflitos que se resolverão nos capítulos seguintes e, também no fim, para manter o suspense e o interesse do leitor. São os ganchos de que se valem os autores de seriados ou novelas.

Estrutura do texto

Os parágrafos devem apresentar uma ideia (ou ação) completa e que se integre ao contexto do capítulo que, por sua vez, se conecta ao enredo principal que suporta toda a trama. Em uma boa narrativa, quase sempre o menos é mais. Deve-se evitar textos desnecessariamente prolixos, com grandes parágrafos e frases longas.

“De repente ele percebeu que o olhar dela havia se desviado para o lançador. Havia chegado o momento de uma desgraça praticamente anunciada. O anticlímax o fez lançar uma prece silenciosa a todos os deuses que conhecia, mesmo tendo a convicção de que deuses não se importavam com o miserável destino de um simples mortal no jogo de taco.” (Zaphir, 2014)

Narração e diálogos são partes distintas e não devem ser misturados no mesmo parágrafo, a menos que a frase do personagem seja entremeada por um comentário ou informação do narrador. Um recurso que deve ser usado com parcimônia.

- Michel é mariquinha! Michel é mariquinha! – Gritavam em coro, remexendo os quadris, na tentativa de imitar o que lhes parecia o jeito de andar das meninas.” (Zaphir, 2014)

Descrições de personagens, locais, sentimentos e outras informações da trama, seguem a linha do menos é mais. Deixe algo para a imaginação do leitor. Quando há uma conexão com a história, ele mesmo completa o quadro pintado. É claro que um texto enxuto não quer dizer um texto ruim. Sua missão é encantar o leitor e torná-lo seu cúmplice na história contada. Um bom texto procura instigar o leitor e conduzi-lo por caminhos inusitados e novas experiências literárias, sem descuidar do foco principal, que é contar uma boa história.
Cada parágrafo deve conduzir o leitor pela trama de forma coerente, sem erros de continuidade. Um acontecimento, descrição, ação ou narrativa de um parágrafo não deve contrariar as premissas iniciais da história contada, ou o que já foi revelado numa parte anterior.


Ponto de Vista.

Também chamado POV (Poin of view) é a perspectiva escolhida para narrar a história. Há três tipos de ponto de vista possíveis, segundo os manuais de técnicas narrativas:

- Primeira Pessoa. Nesse caso, o narrador também é personagem da história e toma parte ativa nos eventos narrados. Isso leva o leitor a participar da trama no ponto de vista do narrador e estabelece com ele uma conexão.

Depois de um longo e cansativo processo, que incluiu diversas entrevistas, teste psicotécnico e exame médico, recebi a confirmação de que havia sido admitido no novo emprego. A entrevistadora deu-me a notícia de um jeito que me fez pensar que eu havia ganhado na loteria. Sem saber ainda como deveria me sentir, correspondi ao seu sorriso de boas-vindas.
- Bem-vindo à nossa ‘família’. - Ela disse, ainda sorrindo daquele jeito estranho.” (Requiescat in Pace, 2016).

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– POV de segunda pessoa:

(Continua)

Texto ainda em elaboração.

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