The Raven ("O Corvo") é um poema do escritor e
poeta norte-americano Edgar Allan Poe. Ele foi publicado pela primeira vez em
29 de Janeiro de 1845, no New York Evening Mirror. É um poema notável por sua
musicalidade, língua estilizada e atmosfera sobrenatural provenientes tanto da
métrica exata, permeada de rimas internas e jogos fonéticos, quanto do talento
singular de Poe, um dos maiores expoentes tanto do romantismo quanto da própria
literatura americana.
Neste poema, que apresenta uma temática típica do romantismo
(ou, mais especificamente, do Ultrarromantismo), a figura do misterioso corvo
que pousa sobre o busto de Pallas (ou Atena, na maioria das traduções feitas
para o português como a de Fernando Pessoa) representa a inexorabilidade da
morte e seu impacto sobre o personagem, o qual, no seu papel de arquétipo
correspondente às tendências da geração literária de Poe, lamenta e sofre
profundamente com a perda de sua amada Leonora (Lenore, no original). No final
do poema, o corvo, o qual representa, como dito acima, a inexorabilidade da
morte, repousa sobre o busto de Pallas simbolizando o pesar eterno que se
abateu sobre a alma do protagonista.Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Leia abaixo, o poema "O Corvo", na versão de Fernando Pessoa e o original, em inglês.
Leia abaixo, o poema "O Corvo", na versão de Fernando Pessoa e o original, em inglês.
O CORVO *
(de Edgar Allan Poe)
Numa meia-noite agreste, quando eu lia, lento e triste,
Vagos, curiosos tomos de ciências ancestrais,
E já quase adormecia, ouvi o que parecia
O som de algúem que batia levemente a meus umbrais.
"Uma visita", eu me disse, "está batendo a
meus umbrais.
É só isto, e nada mais."
Ah, que bem disso me lembro! Era no frio dezembro,
E o fogo, morrendo negro, urdia sombras desiguais.
Como eu qu'ria a madrugada, toda a noite aos livros dada
P'ra esquecer (em vão!) a amada, hoje entre hostes
celestiais -
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais,
Mas sem nome aqui jamais!
Como, a tremer frio e frouxo, cada reposteiro roxo
Me incutia, urdia estranhos terrores nunca antes tais!
Mas, a mim mesmo infundido força, eu ia repetindo,
"É uma visita pedindo entrada aqui em meus umbrais;
Uma visita tardia pede entrada em meus umbrais.
É só isto, e nada mais".
E, mais forte num instante, já nem tardo ou hesitante,
"Senhor", eu disse, "ou senhora, decerto me
desculpais;
Mas eu ia adormecendo, quando viestes batendo,
Tão levemente batendo, batendo por meus umbrais,
Que mal ouvi..." E abri largos, franqueando-os, meus
umbrais.
Noite, noite e nada mais.
A treva enorme fitando, fiquei perdido receando,
Dúbio e tais sonhos sonhando que os ninguém sonhou iguais.
Mas a noite era infinita, a paz profunda e maldita,
E a única palavra dita foi um nome cheio de ais -
Eu o disse, o nome dela, e o eco disse aos meus ais.
Isso só e nada mais.
Para dentro então volvendo, toda a alma em mim ardendo,
Não tardou que ouvisse novo som batendo mais e mais.
"Por certo", disse eu, "aquela bulha é na
minha janela.
Vamos ver o que está nela, e o que são estes sinais."
Meu coração se distraía pesquisando estes sinais.
"É o vento, e nada mais."
Abri então a vidraça, e eis que, com muita negaça,
Entrou grave e nobre um corvo dos bons tempos ancestrais.
Não fez nenhum cumprimento, não parou nem um momento,
Mas com ar solene e lento pousou sobre os meus umbrais,
Num alvo busto de Atena que há por sobre meus umbrais,
Foi, pousou, e nada mais.
E esta ave estranha e escura fez sorrir minha amargura
Com o solene decoro de seus ares rituais.
"Tens o aspecto tosquiado", disse eu, "mas de
nobre e ousado,
Ó velho corvo emigrado lá das trevas infernais!
Dize-me qual o teu nome lá nas trevas infernais."
Disse o corvo, "Nunca mais".
Pasmei de ouvir este raro pássaro falar tão claro,
Inda que pouco sentido tivessem palavras tais.
Mas deve ser concedido que ninguém terá havido
Que uma ave tenha tido pousada nos meus umbrais,
Ave ou bicho sobre o busto que há por sobre seus umbrais,
Com o nome "Nunca mais".
Mas o corvo, sobre o busto, nada mais dissera, augusto,
Que essa frase, qual se nela a alma lhe ficasse em ais.
Nem mais voz nem movimento fez, e eu, em meu pensamento
Perdido, murmurei lento, "Amigo, sonhos - mortais
Todos - todos já se foram. Amanhã também te vais".
Disse o corvo, "Nunca mais".
A alma súbito movida por frase tão bem cabida,
"Por certo", disse eu, "são estas vozes
usuais,
Aprendeu-as de algum dono, que a desgraça e o abandono
Seguiram até que o entono da alma se quebrou em ais,
E o bordão de desesp'rança de seu canto cheio de ais
Era este "Nunca mais".
Mas, fazendo inda a ave escura sorrir a minha amargura,
Sentei-me defronte dela, do alvo busto e meus umbrais;
E, enterrado na cadeira, pensei de muita maneira
Que qu'ria esta ave agoureia dos maus tempos ancestrais,
Esta ave negra e agoureira dos maus tempos ancestrais,
Com aquele "Nunca mais".
Comigo isto discorrendo, mas nem sílaba dizendo
À ave que na minha alma cravava os olhos fatais,
Isto e mais ia cismando, a cabeça reclinando
No veludo onde a luz punha vagas sobras desiguais,
Naquele veludo onde ela, entre as sobras desiguais,
Reclinar-se-á nunca mais!
Fez-se então o ar mais denso, como cheio dum incenso
Que anjos dessem, cujos leves passos soam musicais.
"Maldito!", a mim disse, "deu-te Deus, por
anjos concedeu-te
O esquecimento; valeu-te. Toma-o, esquece, com teus ais,
O nome da que não esqueces, e que faz esses teus ais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou
ave preta!
Fosse diabo ou tempestade quem te trouxe a meus umbrais,
A este luto e este degredo, a esta noite e este segredo,
A esta casa de ância e medo, dize a esta alma a quem atrais
Se há um bálsamo longínquo para esta alma a quem atrais!
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Profeta", disse eu, "profeta - ou demônio ou
ave preta!
Pelo Deus ante quem ambos somos fracos e mortais.
Dize a esta alma entristecida se no Éden de outra vida
Verá essa hoje perdida entre hostes celestiais,
Essa cujo nome sabem as hostes celestiais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
"Que esse grito nos aparte, ave ou diabo!", eu
disse. "Parte!
Torna á noite e à tempestade! Torna às trevas infernais!
Não deixes pena que ateste a mentira que disseste!
Minha solidão me reste! Tira-te de meus umbrais!
Tira o vulto de meu peito e a sombra de meus umbrais!"
Disse o corvo, "Nunca mais".
E o corvo, na noite infinda, está ainda, está ainda
No alvo busto de Atena que há por sobre os meus umbrais.
Seu olhar tem a medonha cor de um demônio que sonha,
E a luz lança-lhe a tristonha sombra no chão há mais e mais,
Libertar-se-á... nunca mais!
Fernando Pessoa
The Raven
BY EDGAR ALLAN POE
Once upon a
midnight dreary, while I pondered, weak and weary,
Over many a quaint
and curious volume of forgotten lore—
While I nodded, nearly napping, suddenly
there came a tapping,
As of some one
gently rapping, rapping at my chamber door.
“’Tis some
visitor,” I muttered, “tapping at my chamber door—
Only this and nothing more.”
Ah, distinctly I remember it was in the
bleak December;
And each separate
dying ember wrought its ghost upon the floor.
Eagerly I wished the morrow;—vainly I had
sought to borrow
From my books surcease of sorrow—sorrow for
the lost Lenore—
For the rare and
radiant maiden whom the angels name Lenore—
Nameless here for evermore.
And the silken, sad, uncertain rustling of
each purple curtain
Thrilled me—filled
me with fantastic terrors never felt before;
So that now, to still the beating of my
heart, I stood repeating
“’Tis some visitor entreating entrance at
my chamber door—
Some late visitor
entreating entrance at my chamber door;—
This it is and nothing more.”
Presently my soul grew stronger; hesitating
then no longer,
“Sir,” said I, “or
Madam, truly your forgiveness I implore;
But the fact is I was napping, and so
gently you came rapping,
And so faintly you came tapping, tapping at
my chamber door,
That I scarce was
sure I heard you”—here I opened wide the door;—
Darkness there and nothing more.
Deep into that darkness peering, long I
stood there wondering, fearing,
Doubting, dreaming
dreams no mortal ever dared to dream before;
But the silence was unbroken, and the
stillness gave no token,
And the only word there spoken was the
whispered word, “Lenore?”
This I whispered,
and an echo murmured back the word, “Lenore!”—
Merely this and nothing more.
Back into the chamber turning, all my soul
within me burning,
Soon again I heard
a tapping somewhat louder than before.
“Surely,” said I, “surely that is something
at my window lattice;
Let me see, then, what thereat is, and
this mystery explore—
Let my heart be
still a moment and this mystery explore;—
’Tis the wind and nothing more!”
Open here I flung the shutter, when, with
many a flirt and flutter,
In there stepped a
stately Raven of the saintly days of yore;
Not the least obeisance made he; not a
minute stopped or stayed he;
But, with mien of lord or lady, perched
above my chamber door—
Perched upon a bust
of Pallas just above my chamber door—
Perched, and sat, and nothing more.
Then this ebony
bird beguiling my sad fancy into smiling,
By the grave and
stern decorum of the countenance it wore,
“Though thy crest
be shorn and shaven, thou,” I said, “art sure no craven,
Ghastly grim and
ancient Raven wandering from the Nightly shore—
Tell me what thy
lordly name is on the Night’s Plutonian shore!”
Quoth the Raven “Nevermore.”
Much I marvelled this ungainly fowl to hear
discourse so plainly,
Though its answer
little meaning—little relevancy bore;
For we cannot help agreeing that no living
human being
Ever yet was blessed with seeing bird above
his chamber door—
Bird or beast upon
the sculptured bust above his chamber door,
With such name as “Nevermore.”
But the Raven, sitting lonely on the placid
bust, spoke only
That one word, as
if his soul in that one word he did outpour.
Nothing farther then he uttered—not a
feather then he fluttered—
Till I scarcely more than muttered “Other
friends have flown before—
On the morrow he
will leave me, as my Hopes have flown before.”
Then the bird said “Nevermore.”
Startled at the stillness broken by reply
so aptly spoken,
“Doubtless,” said
I, “what it utters is its only stock and store
Caught from some unhappy master whom
unmerciful Disaster
Followed fast and followed faster till his
songs one burden bore—
Till the dirges of
his Hope that melancholy burden bore
Of ‘Never—nevermore’.”
But the Raven still beguiling all my fancy
into smiling,
Straight I wheeled
a cushioned seat in front of bird, and bust and door;
Then, upon the velvet sinking, I betook
myself to linking
Fancy unto fancy, thinking what this
ominous bird of yore—
What this grim,
ungainly, ghastly, gaunt, and ominous bird of yore
Meant in croaking “Nevermore.”
This I sat engaged in guessing, but no
syllable expressing
To the fowl whose
fiery eyes now burned into my bosom’s core;
This and more I sat divining, with my head
at ease reclining
On the cushion’s velvet lining that the lamp-light
gloated o’er,
But whose
velvet-violet lining with the lamp-light gloating o’er,
She shall press, ah, nevermore!
Then, methought, the air grew denser,
perfumed from an unseen censer
Swung by Seraphim
whose foot-falls tinkled on the tufted floor.
“Wretch,” I cried, “thy God hath lent
thee—by these angels he hath sent thee
Respite—respite and nepenthe from thy
memories of Lenore;
Quaff, oh quaff
this kind nepenthe and forget this lost Lenore!”
Quoth the Raven “Nevermore.”
“Prophet!” said I, “thing of evil!—prophet
still, if bird or devil!—
Whether Tempter
sent, or whether tempest tossed thee here ashore,
Desolate yet all undaunted, on this desert
land enchanted—
On this home by Horror haunted—tell me
truly, I implore—
Is there—is there
balm in Gilead?—tell me—tell me, I implore!”
Quoth the Raven “Nevermore.”
“Prophet!” said I, “thing of evil!—prophet
still, if bird or devil!
By that Heaven that
bends above us—by that God we both adore—
Tell this soul with sorrow laden if, within
the distant Aidenn,
It shall clasp a sainted maiden whom the
angels name Lenore—
Clasp a rare and
radiant maiden whom the angels name Lenore.”
Quoth the Raven “Nevermore.”
“Be that word our sign of parting, bird or
fiend!” I shrieked, upstarting—
“Get thee back into
the tempest and the Night’s Plutonian shore!
Leave no black plume as a token of that lie
thy soul hath spoken!
Leave my loneliness unbroken!—quit the bust
above my door!
Take thy beak from
out my heart, and take thy form from off my door!”
Quoth the Raven “Nevermore.”
And the Raven, never flitting, still is
sitting, still is sitting
On the pallid bust
of Pallas just above my chamber door;
Há uma outra tradução de Machado de Assis, que verteu para o português outras obras de Poe em versões aclamadas pelos admiradores daquele que se tornou um dos autores mais influentes na literatura mundial. Machado de Assis é, ele próprio, um estilista da palavra, um mestre do romantismo, reconhecido no mundo todo.
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