Filha de um russo e uma alemã, Elke Georgievna Grunnupp veio para o Brasil com seus pais ainda criança. Eles fugiram da perseguição Stalinista, numa época especialmente conturbada no cenário Mundial. Em terras tupiniquim ela cresceu, se “tropicalizou” e se tornou Elke Maravilha.
Seus pais tinham uma boa impressão do Brasil e compartilhavam a visão idílica de um um paraíso acolhedor para imigrantes e distante das mazelas do velho mundo, como se divulgava numa Europa dividida por conflitos regionais, insuflados por regimes políticos totalitários e nacionalistas, que logo extrapolariam suas fronteiras e desembocariam na segunda guerra mundial.
Diferente do que costumavam fazer os imigrantes recém-chegados ao Brasil, os pais de Elke não quiseram se estabelecer numa colônia. Desejavam proporcionar aos filhos a oportunidade de conhecer intimamente o país que escolheram para viver. Em decorrência disso, estabeleceram-se em Itabira, no interior de Minas Gerais, onde Elke conviveu com a cultura interiorana, aprendeu os hábitos e costumes dos brasileiros e conheceu a diversidade cultural de um país formado por imigrantes de diversas origens. Elke não teve dificuldade em compreender a alma do povo brasileiro e se tornar ela própria uma representante das mais esfuziantes de nossa cultura.
Muito inteligente, a lourinha Elke tinha uma aptidão natural para línguas e, já na adolescência falava
fluentemente alemão, italiano, espanhol, francês, inglês, grego e latim. Ao todo, Elke dominava sete idiomas, além do russo e português, naturalmente. Alguns anos depois, essa bagagem cosmopolita lhe proporcionou a oportunidade de tornar-se independente e morar no Rio de Janeiro, onde trabalhou como secretária bilíngue e fez faculdade de letras. Também trabalhou como bancária, tradutora e intérprete e professora na Aliança Francesa e na União Cultural Brasil- Estados Unidos.
Loura, alta e dona de uma beleza exótica, Elke foi descoberta pelo mundo da moda quando tinha 24 anos de idade e iniciou sua carreira como modelo e manequim do estilista Guilherme Guimarães, uma situação bem diferente do que acontece hoje, quando as modelos começam a carreira cada vez mais cedo. A partir desse inicio, sua carreira a deslanchou e ela trabalhou para grandes estilistas e tomou contato com o mundo do teatro e do cinema e, por meio de cursos de interpretação e dramaturgia que fez, chegou à televisão. Sua atuação como dona de bordel, na minissérie “Memórias de Um Gigolô”, se tornou um marco na dramaturgia televisa.
Ainda nos tempos de modelo e manequim, Elke conheceu a estilista ZuZu Angel, de quem ficou amiga e participou ativamente da luta da estilista em busca da verdade sobre o assassinato de seu filho Stuart Angel Jones pelos cães da Ditadura Militar que se instaurou no Brasil a partir de 1964.
Sua atuação nesse episódio lhe valeu a perda da cidadania brasileira aos 26 anos de idade, além da
prisão no aeroporto Santos Dumont em 1971. Elke foi solta seis dias depois, após manifestação da classe artística brasileira.
Apesar dos contratempos causados pela repressão promovida pelo regime militar, Elke Maravilha tornou-se um ícone da televisão brasileira nos anos 70 e 80, onde atuou como jurada nos programas do Chacrinha e Silvio Santos, além de participações memoráveis em novelas e minisséries da TV Globo.
Com a exuberância que lhe era peculiar, sua vida pessoal sempre foi bastante conturbada. Por essa razão abdicou da possibilidade de ser mãe, apesar de ter sido casada oito vezes. Elke considerava que jamais poderia cuidar e educar uma criança dignamente, em razão do seu modo de vida extravagante, embalado por drogas ilícitas e álcool. Vive Atualmente com um irmão e seu oitavo ex-marido, de quem se tornou amiga, e mantém-se afastada desses excessos, assumindo uma vida relativamente pacata para os padrões de sua história pessoal.
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